E quando a mãe atípica é autista também?

E quando a mãe atípica é autista também?

Por Jeane Rodrigues
Coordenadora TEApresentar


Ao longo da minha caminhada pela maternidade atípica, inúmeras vezes me vi sozinha.

Mesmo quando amigas que já eram mães tentavam me ajudar, eu me sentia sozinha. Porque eu sabia que cada uma de nós tem um maternar que é só nosso. E que a maternidade típica e atípica inevitavelmente tornaria nosso maternar ainda mais diverso e único.

Eu lia e ouvia a todo tempo uma frase que, de certa forma, me trazia acolhimento: “Quem cuida de quem cuida?”

E muitas vezes desejei alguém que cuidasse de mim. Sem questionar nada.

Comecei a integrar grupos de mães que, assim como eu, buscavam apenas um lugar seguro onde pudessem desabafar sem que esse desabafo fosse mal-interpretado. Afinal, fomos nós que quisemos ser mães, não é mesmo?

Quanta falta de empatia existe nessa caminhada!

Talvez por isso seja tão comum mulheres que já são mães dizerem de sua solidão, mesmo numa casa cheia de gente.

Acontece que, mesmo junto de tantas dessas mulheres, mães atípicas, que me acolheram e respeitaram minhas “queixas”, eu ainda me sentia sozinha de alguma forma.

Não demorou muito, a resposta chegou. Eu era uma autista mãe de autista!

E isso explicou tanta coisa.

E o que tenho a dizer hoje é que não é fácil. Nunca foi.

Mas sei que, assim como eu, tantas outras autistas são mães, de filhos típicos e atípicos.

E quero dizer a todas que não estão sozinhas.

Não estão sozinhas, quando choram junto com seus filhos.

Quando entram em crise antes ou depois de uma crise de seus filhos.

Quando se permitem fazer estereotipias para se autorregularem e darem conta das tarefas da casa, do trabalho, de tudo.

Não estão sozinhas quando contam para alguém na pracinha, no supermercado ou na porta da escola que seus filhos são autistas e que vocês também são.

Não estão sozinhas quando têm seus diagnósticos questionados e sua luta diária invalidada.

Não estão sozinhas!

Eu estou aqui. Grazi está aqui. Fran está aqui.
E tantas outras. Porque sim, somos muitas.