Depoimento Sheila Araújo - TEAcolher

Depoimento Sheila Araújo - TEAcolher

Depoimento Sheila Araújo - TEAcolher

Às vezes, me pergunto qual é o tamanho da luta de uma mãe solo atípica, seja ela solteira, separada, divorciada ou abandonada, seja lá a denominação que se dê, só sei que ela dói!
Mas como assim dói? Se os filhos são os melhores presentes do mundo? E são, mesmo porque, depois que nos tornamos mães, nos esquecemos de nós mesmas para ver nossos pequenos protegidos e felizes. A luta de uma mãe solo é imensurável se comparada com mães que dividem os deveres e obrigações com pais e familiares presentes nas vidas dos filhos.

As mães que desempenham os dois papéis sem rede de apoio, acarretando ter que ser a única provedora do lar, do afeto, dos bens, de cuidados dos filhos, da educação e dos sonhos, vive uma vida quase sub-humana. Elas vão perdendo sua individualidade, respirando e vivendo para dar o melhor de si na criação dos filhos.

Colocando isso dentro do contexto de mães atípicas, a mazela social é maior ainda. Além de todos esses gastos que já existem da criança, ainda entram gastos da vida atípica, com medicação, terapias, médicos e vários outros gastos envolvendo uma criança.
E o abandono paterno é ainda maior nesses casos, já que pensão alimentícia no Brasil mal cobre um terço dos gasto de uma criança, independente da sua condição, e isso é uma vergonha no nosso país. Com isso, as mães sofrem e sofrem muito, e vários danos psicológicos em sua grande maioria são causados pelo excesso de obrigações e deveres que não deveriam ser só delas.
Em alguns casos, os pais ainda aparecem ocasionalmente para participarem de datas festivas como aniversários, Páscoa, Natal, etc. Mas negam e inviabilizam a luta das mães por parecerem pais participativos em fotos, mas não são presentes no resto do ano, não se interessam pela vida da criança, mal perguntam sobre o tratamento, sobre os gastos ou demostram vontade de participar de todo o processo que envolve a vida dos filhos.
Em muitos casos, somem de vez, dizem que a criança não tem nada, fato que é decorrente, em outros membros, das famílias também. Isso faz com que a caminhada dessas mães seja árdua, solitária, invisível com seus filhos. O cansaço e o estresse dessas mães são comparados aos de soldados em guerra.
E a mulher que existia antes da maternidade dá lugar à mãe em tempo integral, que também exerce o papel de pai, e assim ela vai deixando de lado todos os seus gostos e cuidados com sua estética pessoal para economizar, para não faltar muita das vezes o básico em casa. Muitas perdem, inclusive, a capacidade de escolher uma roupa nova, fazer as unhas, os cabelos, saber dizer sua cor preferida, ou até um simples gesto de passar um batom. Não fazem mais por não combinar mais com o reflexo que elas veem de si mesmas no espelho.
A autoestima é cada vez mais baixa ao ponto de não saírem para lugar nenhum, a não ser para aqueles que têm quer ir por obrigação como trabalho, mercado, terapia e médicos dos filhos. Muitas ainda conseguem colocar um sorriso no rosto, porque sabem que estão fazendo o seu melhor, e ninguém iria fazer o mesmo pelos seus filhos.
Assim, fecham-se em um mundo só seu para conseguirem seguir vivendo, já que nunca são chamadas para sair e raramente são convidadas para festas de aniversários ou roda de amigas, por se tonarem invisíveis junto com suas lutas.
Para a sociedade, ser uma mãe atípica e solo é cruel. Por isso, iniciativas como a do TEAcolher da Onda-autismo são tão importantes para o resgate da essência da mulher, da recuperação da sua autoestima, amenizando os impactos psicológicos da vida dessas mulheres, com trocas de vivências positivas, oficinas de cursos de autocuidado, estímulo a exercícios físicos e a regra de ouro do grupo (de Mulher para Mulher). Nesse espaço, não entra a mãe, e sim aquela que está esquecida dentro de cada uma dessas mães, e são momentos de resgate de quem elas são, do que elas eram antes da maternidade. É uma forma linda de ir colorindo novamente a vida dessas mães atípicas para voltarem a sorrir de verdade e a deixarem a felicidade voltar para dentro dos seus corações, apesar das dificuldades.
Parabéns, meninas lindas do TEAcolher! Cuidar de quem cuida também é prioridade.