Autismo, Superdotação e Desconstrução

Autismo, Superdotação e Desconstrução

Por Cláudia Moraes
Vice-presidenta ONDA-Autismo


Por que falo sempre de estruturas para o autismo?

Algumas pessoas autistas para construírem pensamentos e conceitos encontram muitas dificuldades, então se apegam a imutalidade das estruturas para sentirem-se mais seguras nesse mundo tão caótico.

Ultimamente terapeutas e professores têm usado muito esse termo “desconstrução”, o que para mim ao invés da ideia que propõem “desconstruir para deixar brotar o novo”, a ideia que me passa e o que entendo é : desconstruir para voltar ao caos.

Existe uma diferença grande entre saber e compreender. Eu sei muito sobre o que as pessoas típicas querem que eu saiba, mas existem as coisas que sei e não compreendo. E uma delas é desconstruir. Eu me imagino sempre como a clássica imagem do garotinho na praia construindo seu lindo castelo de areia, vem as ondas do mar e destroem tudo num segundo.

Aí sei também que poderão pensar:

- Ah, mas é desconstruir o que é negativo.

Entendo isso também, mas para a minha mente autista, até o que é negativo foi criado com muito trabalho cerebral, e “desconstruir” isso sem ter me adaptado a ideia, é muito desconfortável, me deixa sem chão. Mesmo o que é negativo, mas já é conhecido, às vezes pode ser mais confortável do que criar algo novo. Assim, o processo do pensamento autista pode demandar mais tempo para desconstruir e iniciar nova obra.

Ontem vi um trecho do seriado Modern Family, em um post. E a atriz latina Sofia Vergara dizia ao marido americano como era difícil para sua mente latina traduzir tudo rápido para o inglês e a resposta surgir instantânea.

É mais ou mesmo assim o meu processo de pensamento, após o diagnóstico tive a percepção, antes isso acontecia mais no automático, eu ouço o que me dizem aí meu pensamento autista retorna para mim de uma forma, meu pensamento superdotado de outra, minha personalidade também responde, e ainda busco a resposta mais adequada ao que o interlocutor deseja ouvir.

Isso é trabalhoso e desgastante.

Por isso é importante entender que as estruturas físicas ou mentais são muito necessárias para pessoas autistas e que o trabalho de desconstrução delas deve ser no tempo que a pessoa autista demande, sem que se sinta pressionada por seu interlocutor.